sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A Saga da Impressora ou Nos Rastros de Che


 Passei novembro e dezembro de 2013 tentando uma passagem para o verão em Fortaleza, mas estava mais caro do que ir para os EUA. Já estava desanimando quando uma amiga veio com a solução: Cuba. Bem, acabamos não conseguindo conciliar as férias, mas a ideia ficou em minha cabeça. Sempre pensei que um dia iria conhecer Cuba, por toda a história, as citações de Che Guevara, mas não imaginava que seria assim, "na próxima semana", porém não tinha mais tempo a perder, afinal antes do Carnaval tinha que estar de volta.
Comprei as passagens e iniciei a busca por hostels, mas me surpreendi ao ver que não existiam. Ao buscar valores mais acessíveis só encontrava quartos em casas de família. A idéia de início me assustou, afinal chegar sozinha na casa de alguém que não conheço fora do meu país, com uma cultura distinta… Olhei as tarifas dos hotéis e vi que não tinha solução a não ser arriscar. Reservei então as passagens de ônibus entre as cidades e enviei mails para os donos de algumas casas solicitando reservas.
  Madrugada da viagem, várias respostas no inbox. Quando abro, quase todas negativas, não havia vaga em nenhum lugar, a não ser para a chegada. O que já era tenso ficou ainda mais, lá ia eu “sem lenço sem documento”, sem destino, sem saber onde iria dormir.

Chegada à Havana

Imagens de Che e Fidel por todo lado, pichações sobre revolução ou protestos nos muros, prédios antigos e automóveis do século passado… “Estoy en Habana”.  O táxi pára na frente de um prédio com uma fachada muito mal conservada. Se eu não tivesse sido alertada que lá as aparências externas enganam, jamais desceria. Bem, vou até o andar indicado e a pessoa que me recebe me leva até a dona do apartamento. Lá dentro um lindo lugar, totalmente contrastante com seu exterior. Sou encaminhada então até o apartamento onde ficaria com mais três garotas. A primeira noite foi tranquila, saí para ver um pouco a cidade e retornei. 
No dia seguinte saí bem cedo e só retornei no fim do dia. Para minha surpresa, havia um homem dormindo no quarto, então esperei até que as garotas chegassem. Elas falaram que a dona da casa havia informado que ele também ficaria lá. Achei estranho, pois havia alugado como apto feminino, mas ok, como agora éramos maioria fui dormir. No dia seguinte fui falar com a responsável e ela disse que achou que eu não iria me importar porque ele era do Rio de Janeiro (ela acha que os cariocas são santos?!?! rsrs).  
Havana é uma cidade que todos deveriam conhecer, um lugar que respira história, um povo que vive ainda muito voltado para o passado e uma economia muito peculiar, que convive com duas moedas diferentes.





Passagens rodoviárias, o dilema

Eu já havia comprado quase todas as passagens rodoviárias pela Internet para facilitar, exceto a primeira. Me dirigi então à rodoviária para primeira partida e aproveitei para me informar como realizar troca e retirar passagem e fui passando meus dados e da compra efetuada. Me surpreendi ao perceber que isso não valia de nada, que a rodoviária não imprime passagem e que nem o computador deles funciona (e isso em Havana, imagina nas cidades menores!!). Resumindo, se não levar a passagem impressa terá que comprar outra. Ok, achei estranho mas pensei que seria um problema facilmente contornável, já que em qualquer lugar de “xerox” deveria haver uma impressora. Doce ilusão... 
De volta à Havana, ainda na rodoviária, perguntei por alguma loja com impressora e me indicaram um hotel do tipo 5 estrelas... Pensei... não vou até lá só para imprimir, vou até a casa onde estou hospedada ou alguma loja do centro da cidade... e aí começou minha peregrinação....
Ao chegar à casa, meu sorriso se abriu ao ver uma impressora em cima da mesa, logo a dona da casa explicou que não tinha tinta porque é muito difícil encontrar em Havana, então seu esposo só compra quando viaja. Fui indicada a começar meu passeio no ônibus “hop on hop off” (que para nos pontos turísticos) e descer perto do tal hotel, pois se não encontrasse impressora em alguma loja restaria esta opção. Bem, era uma rua de comércio, com lojas, bares, depois de alguns minutos caminhando avistei uma papelaria e confirmei que havia impressora, porém não havia internet. Encontrei também uma loja de fotografia onde me deparei com os mesmos “problemas”. Passei a buscar uma lan house, assim poderia gravar em um pen drive... missão impossível...
Fui novamente orientada a buscar o tal hotel. Entrei, meio sem graça e perguntei se poderia usar a internet e impressora. Vi que haviam realmente vários computadores mais antigos e impressoras, mas alegaram que estavam com defeito. A atendente me indicou então o maior hotel da cidade (Hotel Nacional), uma espécie de “Copacabana Palace” de Cuba, e lá fui eu com meu traje turista andarilha a usar a impressora do hotel 5 estrelas...

         Ao entrar no luxuoso salão e cruzar a área da piscina fui recebida por lindos pavões azuis que caminhavam tranquilamente entre os hóspedes. Depois de apreciar as aves e a paisagem subi enfim para a sala de internet e o valor pago para usar menos de 10 min de internet e imprimir 3 passagens foi quase equivalente ao preço de uma delas, o que era de se esperar de um hotel luxuoso... mas não tive alternativa, se não imprimisse perderia as três...







Bem, ao menos fiz um tour pela cidade na busca da impressora e internet. Tinha idéia sobre a censura de sites e dificuldades de conexão, mas não imaginava que seria assim quase impossível encontrar lan house e wi-fi (embora estudantes tenham acesso nas universidades). Ao me dar conta disso a tensão aumentou pensando como faria então as reservas de quartos para as próximas cidades ou como acessaria mail para ler as respostas das tentativas de reserva realizadas.... sorte que até pela deficiência de internet as pessoas mantêm uma "conexão real" e telefônica forte, então as pessoas que alugam quartos têm familiares e amigos que fazem o mesmo nas demais cidades, uma espécie de rede de contatos mantendo a mesma qualidade e hospitalidade. Foi assim que conheci e me hospedei em Varadero,Santa Clara,Cienfuegos e Trinidad, cada uma com suas particularidades e encantos.

(Fotos Creuza Gravina)



2 comentários:

  1. Oi Creuza. Gostei muito da maneira que você escreveu e das dicas que você passou. Não que Cuba seja um país para onde eu queira viajar, rsrs, mas a descontração na sua narração ficou muito legal.
    Parabéns. Abs, Celso.

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  2. oi Celso, que bom que gostou. A cada mês publicarei sobre um novo país ou cidade(s). Abs

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