Enfim o ano de
2016 terminou... Todos os anos costumam despertar sentimentos opostos na
população, dependendo do que foi vivido por cada um, porém, com raras exceções,
o ano que se finda parece ter causado um sentimento geral de insatisfação.
Guerras, tragédias, violência, reviravolta política, desemprego, atraso nos
salários, crise nos transportes e tantos outros problemas que tomaram conta não
só do Brasil mas da maior parte do mundo.
Como o foco do
blog não é levantar polêmicas e sim falar de viagens e cultura, resolvi fechar
o ano contando um pouco da minha experiência no grande evento esportivo que
movimentou o Brasil e o mundo, misturando nações e culturas, transformando o
Rio num dos destinos mais procurados pelos viajantes nessa fase.
A Rio 2016, apoiada
por uns e criticada por outros desde a divulgação inicial, enfrentando
manifestações internas, ameaças de conflitos e medo internacional em
decorrência da Zika e da instabilidade política, mas contrariando muitas
expectativas negativas, as Olimpíadas e Paralimpíadas ocorreram com sucesso e
sem contratempos graves, com repercussão positiva na imprensa
internacional.
Respeitando a
opinião de cada um e sem querer levantar polêmicas, considero que é importante
todos pensarem em tudo de bom que foi vivido nesse período e o que ficou. Não
falo de questões materiais, mas de valores, das emoções compartilhadas, da
união entre os povos, do choro, seja pela derrota ou vitória, da alegria de
competir, do entusiasmo de torcer. Só quem esteve de dentro, seja como atleta,
funcionário, voluntário ou público, pode entender bem o significado de tudo
isso.
A cada
delegação que chegava na Vila Olímpica\Paralímpica, ela ia ganhando mais cor,
mais vida. Ver aquelas inúmeras torres lotadas de bandeiras diversas e
misturadas, pessoas de diferentes raças, religiões, classes sociais, línguas e culturas interagindo pelas ruas da Ilha Pura, me fez voltar a acreditar que o sonho de paz mundial não é uma
utopia impossível.
Ali presenciei
momentos únicos, ações simples mas com significado especial, como um dos
representantes da delegação dos refugiados “vizinha de porta” de outro país,
aproveitando o encontro casual no corredor para se apresentar e dizer “somos
dos refugiados, qualquer coisa estamos aí” e a chefe da outra delegação
retribuir com a mesma simpatia. Outros “vizinhos” emprestaram materiais entre
si, além de fazerem visitas para bater papo... Certo dia fui entregar algo para
uma delegação de país com pele bem branca, não recordo qual, e lá estava um
senhor negro alto e sorridente com a camisa do país que havia trocado
provavelmente minutos atrás. Esse era o espírito, todos juntos e misturados.
Nas cerimônias de boas vindas, vi
participantes de delegações que usavam vestimentas tradicionais com turbantes
ou véus e vestidos longos, não resistindo ao suingue no funk brasileiro, vi
trenzinho de cadeirantes, atletas puxando funcionários e voluntários para a
roda, todos envolvidos por uma energia sem fim.
Vi chefes de delegação (Chefes de Missão), que tinham prioridade na
escolha dos quartos, elegerem o que seria o quarto de empregada como favorito,
não se importando com o espaço reduzido em troca de mais privacidade... Vi membros de delegações de países mais pobres
deslumbrados ao entrarem nos apartamentos, outros que só se preocupavam com a
tela protetora de mosquitos, além dos que se prendiam a detalhes sem
importância... Vi aqueles que realmente
enfrentaram problemas de início na vila, dias depois agradecerem e se sentirem
“em casa”... Vi paredes externas dos
corredores decoradas com bandeiras, cartazes e mensagens de países diferentes
lado a lado... Vi uma atleta holandesa
nos pedindo carona num carrinho de golf, falando para irmos na contramão pois
não poderia perder o ônibus, enquanto ao mesmo tempo gritava para o funcionário
que controlava a pista dizendo que por favor permitissem o trajeto pois ela que
havia pedido para meu colega cometer a pequena “infração”. Logo em seguida veio
outro pedido de “socorro”, dessa vez para o ex presidente do comitê, que
necessitava também de uma carona, já que a bateria do carrinho de golf em que
estava havia terminado... E lá fomos nós fazer a segunda boa ação do dia
...
Foram três
meses de muito trabalho e de experiências gratificantes, entreguei os
apartamentos para as delegações na Vila dos Atletas, fui intérprete no
Maracanazinho e Maracanã, trabalhei na área de imprensa do Goalball na Arena do
Futuro e ainda participei como elenco da cerimônia de encerramento das
Olimpíadas e a abertura das Olimpíadas. Ver o estádio lotado e iluminado
estando dentro do campo, fazendo parte daquele show foi algo mais do que
especial, uma sensação única. No fim do espetáculo, foi emocionante quando os
atletas invadiram o centro do gramado e se misturaram aos dançarinos, pedindo
para tirar fotos com a gente, para usar a fantasia, para se envolverem ainda
mais com aquela festa.
Nos dias de
jogos, vi brasileiros torcerem entusiasmados numa partida de Pólo Aquático como
se fosse uma final de futebol. Vi crianças de escolas brasileiras, num jogo
paraolímpico, torcendo para países distintos como se fosse um Fla/Flu ... Vi crianças e depois adultos experimentarem
jogar Goalball quando a equipe oficial faltou o jogo por perder o avião e a
produção usou a criatividade e resolveu realizar um jogo com placar e narração
com o público presente. São histórias intermináveis, momentos inesquecíveis.
Sentirei falta
do barulhento “Monster Block, Monster Block, Monster Monster, Monster Block...” e do "Here comes the Boom, here comes the Boom, here comes the Boom, Boom, Boom...", que agitavam a torcida nas partidas de Vôlei, assim como do tranquilizante “Quiet
please! Play!”, que inacreditavelmente conseguia silenciar uma torcida ansiosa durante
os jogos do Goalball, que na hora do “Gooool”
fazia explodir todo o grito que estava contido.
Posso dizer
que participei de uma verdadeira maratona, era como praticar um triathlon por dia. Dormir e parar eram
palavras quase impronunciáveis nesse período, mas posso dizer que cada minuto
valeu a pena, que essas memórias ficarão para sempre.
Emoções - Jogos Olímpicos Rio 2016
Os textos
deixados no mural Paralímpico e nas folhas verdes do “Orgulho Paralímpico”
simbolizam um pouco do sentimento compartilhado pelos realmente vivenciaram a
Rio 2016 e servem como mensagem de força e otimismo.
Que 2017 comece nesse espírito!
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Músicas, sons e vídeos para recordar a Rio
2016:
Olympic Games Rio 2016 Official Theme-Music: Alma
e Coração - Thiaguinho and Projota
Monster Block
Here comes the BOOM!
Goalball highlights
| Rio 2016 Paralympic Games (day 9)
Tema das Cerimônias de Premiação
(Rio 2016 Olympics Medal Victory Ceremony Theme Song)
Temas Oficiais Olimpíadas 2016 - Brazilian Fantasy
Temas Oficiais Olimpíadas 2016 - Brazilian
Fantasy (Samba Funky Version)
Aquarela do Brasil - Daniela Mercury - Olimpíadas
Rio 2016 FULL HD Abertura
Rio 2016™ We Are All Brazil! / Somos Todos
Brasil! [HD]
Creuza Gravina
(Fotos Creuza Gravina)
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