sábado, 31 de dezembro de 2016

E 2016 chega ao fim

Enfim o ano de 2016 terminou... Todos os anos costumam despertar sentimentos opostos na população, dependendo do que foi vivido por cada um, porém, com raras exceções, o ano que se finda parece ter causado um sentimento geral de insatisfação. Guerras, tragédias, violência, reviravolta política, desemprego, atraso nos salários, crise nos transportes e tantos outros problemas que tomaram conta não só do Brasil mas da maior parte do mundo.
Como o foco do blog não é levantar polêmicas e sim falar de viagens e cultura, resolvi fechar o ano contando um pouco da minha experiência no grande evento esportivo que movimentou o Brasil e o mundo, misturando nações e culturas, transformando o Rio num dos destinos mais procurados pelos viajantes nessa fase.
A Rio 2016, apoiada por uns e criticada por outros desde a divulgação inicial, enfrentando manifestações internas, ameaças de conflitos e medo internacional em decorrência da Zika e da instabilidade política, mas contrariando muitas expectativas negativas, as Olimpíadas e Paralimpíadas ocorreram com sucesso e sem contratempos graves, com repercussão positiva na imprensa internacional. 
Respeitando a opinião de cada um e sem querer levantar polêmicas, considero que é importante todos pensarem em tudo de bom que foi vivido nesse período e o que ficou. Não falo de questões materiais, mas de valores, das emoções compartilhadas, da união entre os povos, do choro, seja pela derrota ou vitória, da alegria de competir, do entusiasmo de torcer. Só quem esteve de dentro, seja como atleta, funcionário, voluntário ou público, pode entender bem o significado de tudo isso.
A cada delegação que chegava na Vila Olímpica\Paralímpica, ela ia ganhando mais cor, mais vida. Ver aquelas inúmeras torres lotadas de bandeiras diversas e misturadas, pessoas de diferentes raças, religiões, classes sociais, línguas e culturas interagindo pelas ruas da Ilha Pura, me fez voltar a acreditar que o sonho de paz mundial não é uma utopia impossível.  








Ali presenciei momentos únicos, ações simples mas com significado especial, como um dos representantes da delegação dos refugiados “vizinha de porta” de outro país, aproveitando o encontro casual no corredor para se apresentar e dizer “somos dos refugiados, qualquer coisa estamos aí” e a chefe da outra delegação retribuir com a mesma simpatia. Outros “vizinhos” emprestaram materiais entre si, além de fazerem visitas para bater papo... Certo dia fui entregar algo para uma delegação de país com pele bem branca, não recordo qual, e lá estava um senhor negro alto e sorridente com a camisa do país que havia trocado provavelmente minutos atrás. Esse era o espírito, todos juntos e misturados.  
Nas cerimônias de boas vindas, vi participantes de delegações que usavam vestimentas tradicionais com turbantes ou véus e vestidos longos, não resistindo ao suingue no funk brasileiro, vi trenzinho de cadeirantes, atletas puxando funcionários e voluntários para a roda, todos envolvidos por uma energia sem fim.  





Vi chefes de delegação (Chefes de Missão), que tinham prioridade na escolha dos quartos, elegerem o que seria o quarto de empregada como favorito, não se importando com o espaço reduzido em troca de mais privacidade...  Vi membros de delegações de países mais pobres deslumbrados ao entrarem nos apartamentos, outros que só se preocupavam com a tela protetora de mosquitos, além dos que se prendiam a detalhes sem importância...  Vi aqueles que realmente enfrentaram problemas de início na vila, dias depois agradecerem e se sentirem “em casa”...  Vi paredes externas dos corredores decoradas com bandeiras, cartazes e mensagens de países diferentes lado a lado...  Vi uma atleta holandesa nos pedindo carona num carrinho de golf, falando para irmos na contramão pois não poderia perder o ônibus, enquanto ao mesmo tempo gritava para o funcionário que controlava a pista dizendo que por favor permitissem o trajeto pois ela que havia pedido para meu colega cometer a pequena “infração”. Logo em seguida veio outro pedido de “socorro”, dessa vez para o ex presidente do comitê, que necessitava também de uma carona, já que a bateria do carrinho de golf em que estava havia terminado... E lá fomos nós fazer a segunda boa ação do dia ... 



Foram três meses de muito trabalho e de experiências gratificantes, entreguei os apartamentos para as delegações na Vila dos Atletas, fui intérprete no Maracanazinho e Maracanã, trabalhei na área de imprensa do Goalball na Arena do Futuro e ainda participei como elenco da cerimônia de encerramento das Olimpíadas e a abertura das Olimpíadas. Ver o estádio lotado e iluminado estando dentro do campo, fazendo parte daquele show foi algo mais do que especial, uma sensação única. No fim do espetáculo, foi emocionante quando os atletas invadiram o centro do gramado e se misturaram aos dançarinos, pedindo para tirar fotos com a gente, para usar a fantasia, para se envolverem ainda mais com aquela festa.






Nos dias de jogos, vi brasileiros torcerem entusiasmados numa partida de Pólo Aquático como se fosse uma final de futebol. Vi crianças de escolas brasileiras, num jogo paraolímpico, torcendo para países distintos como se fosse um Fla/Flu ...  Vi crianças e depois adultos experimentarem jogar Goalball quando a equipe oficial faltou o jogo por perder o avião e a produção usou a criatividade e resolveu realizar um jogo com placar e narração com o público presente. São histórias intermináveis, momentos inesquecíveis.




Sentirei falta do barulhento “Monster Block, Monster Block, Monster Monster, Monster Block...” e do "Here comes the Boom, here comes the Boom, here comes the Boom, Boom, Boom...", que agitavam a torcida nas partidas de Vôlei, assim como do tranquilizante “Quiet please! Play!”, que inacreditavelmente conseguia silenciar uma torcida ansiosa durante os jogos do Goalball, que na hora do “Gooool”  fazia explodir todo o grito que estava contido.



Posso dizer que participei de uma verdadeira maratona, era como praticar um triathlon por dia. Dormir e parar eram palavras quase impronunciáveis nesse período, mas posso dizer que cada minuto valeu a pena, que essas memórias ficarão para sempre.


Emoções - Jogos Olímpicos Rio 2016





Os textos deixados no mural Paralímpico e nas folhas verdes do “Orgulho Paralímpico” simbolizam um pouco do sentimento compartilhado pelos realmente vivenciaram a Rio 2016 e servem como mensagem de força e otimismo. 







Que 2017 comece nesse espírito!  



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Músicas, sons e vídeos para recordar a Rio 2016:

Olympic Games Rio 2016 Official Theme-Music: Alma e Coração - Thiaguinho and Projota
Monster Block
Here comes the BOOM!
Goalball highlights | Rio 2016 Paralympic Games (day 9)
Tema das Cerimônias de Premiação
(Rio 2016 Olympics Medal Victory Ceremony Theme Song)
Temas Oficiais Olimpíadas 2016 - Brazilian Fantasy
Temas Oficiais Olimpíadas 2016 - Brazilian Fantasy (Samba Funky Version)
Aquarela do Brasil - Daniela Mercury - Olimpíadas Rio 2016 FULL HD Abertura
Rio 2016™ We Are All Brazil! / Somos Todos Brasil! [HD]


Creuza Gravina

(Fotos Creuza Gravina)

Colômbia - O Retorno

Uma viagem que ficará marcada na memória ...

O blog estava um tempinho parado pois este ano predominaram viagens internas e além disso não fazia sentido desbravar o mundo se o centro das atenções estava na nossa cidade, com as Olimpíadas e Paralimpíadas. Com a chegada do fim do ano e milhas a vencer, surgiu a vontade de dar continuidade à viagem pela Colômbia que teve que ser interrompida antes do previsto em 2015. O plano era desestressar e prosseguir com a pesquisa iniciada no ano anterior.

E lá fui eu novamente rumo a Medellin... 



Logo nos primeiros dias, assisti ao jogo do Atlético Nacional e Cerro Porteño pela Copa Sul-Americana no Estádio Atanásio Giradot, partida que definiria o adversário da Chapecoense na final.  Com o lugar lotado e colorido de verde e branco (cores do Nacional) pude sentir a emoção da torcida, vivenciar mais uma vez o amor dos colombianos pelo futebol, com a mesma energia que presenciei durante os jogos da Copa do Mundo de 2014 e que me motivou a conhecer o país. O jogo terminou empatado, classificando o time de Medellin para a última fase.  A festa seguiu por toda a madrugada nos diferentes bares e ruas da cidade.





No dia seguinte parti para Cali e em seguida para San Andres, já que o furacão havia passado.  Na cidade praiana, por falta de opções noturnas, resolvi ir com as pessoas do hostel a um passeio de barco conhecido como “Noche Blanca”, que de início parecia uma festa de ano novo.

No trajeto pelo mar conheci várias pessoas do Brasil e juntos fizemos uma “festa brasileira”, embalando os passageiros com diferentes canções do nosso país quando o DJ parou de tocar.  Ao desembarcarmos, seguimos para a praia onde fizemos e uma espécie de luau, e foi lá, que de repente um de nossos conterrâneos leu a notícia que abalaria totalmente nossa estadia naquele país:  a queda do avião da Chapecoense.

Uma misto de dor e incredulidade tomou conta, como podia justo naquele país que dias atrás vivia a imensa alegria do futebol agora enfrentar uma tragédia deste porte. Nos dias seguintes logicamente não havia outro assunto nas rodas de conversa, nos noticiários, nas ruas. O verde e branco agora era usado para homenagens. Mudava de cidade mas o clima era o mesmo, uma tristeza generalizada e um sentimento de comoção generalizada.  Todos sem exceção, quando sabiam que eu era brasileira se mostravam totalmente solidários, pois sabiam que o sentimento não era só dos familiares e colegas de profissão, mas de toda uma nação, repercutindo em todos os cantos do mundo.

Juro que se pudesse adivinhar não queria estar lá nessa época, a viagem acabou sendo totalmente diferente do que eu imaginava, por mais que quisesse conhecer os lugares a vontade imensa era de voltar, abraçar meus familiares, estar aqui no meu país, tentar esquecer ao menos por uns momentos o que havia acontecido. Segui contando os dias e com um vazio no peito mas voltei gostando ainda mais desse povo irmão, que mostrou que pode se unir não somente na alegria mas também na tristeza; essa “gente” que mesmo tendo enfrentado tanta violência no passado, agora mostra tanto amor e respeito pelo próximo. 

              Já havia amado Medellin da primeira vez e agora posso dizer que  aquela cidade  subiu ainda mais no meu conceito, voltaria mil vezes se fosse possível.







Colômbia - Dicas de Viagem - parte 2

Em atualização. Em breve mais dicas,